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terça-feira, 22 de março de 2011

BRUCELOSE EM VETERINÁRIOS, VACINADORES E VAQUEIROS NO ESTADO DO TOCANTINS, BRASIL



 
(Brucellosis in veterinarians, vaccinators and cowboys in the Brazilian State of Tocantins,)

Francisco Aristófanes Sarmento da Silva Braga1, Francisco Baptista2, Caroline Peters Pigatto3, Raimunda de Sousa Canedo Barros4

1 – Médico - aluno de mestrado na Universidade Federal do Tocantins (UFT)
2 - Orientador - professor no Curso de veterinária da UFT
3 – Professora no Curso de veterinária da UFT
4 – Médica Veterinária, técnica no curso de veterinária da UFT

RESUMO

A brucelose, doença infecciosa dos animais, transmite-se ao homem, direta ou indiretamente, através de contato com animais infectados, manipulação de carcaças e vísceras, ou ainda pelo consumo de produtos como leite cru e seus derivados. Assim, o risco de infecção é maior nos profissionais da pecuária, incluindo aqueles que trabalham nos matadouros. Também estão sob risco de infecção aqueles que manipulam a vacina viva produzida com a cepa B19 de Brucella abortus. Nos meses de abril e maio de 2008, foram pesquisados veterinários, vacinadores e vaqueiros em alguns municípios do Tocantins, norte do Brasil, para a detecção de sorologia positiva para brucelose. Este trabalho também serviu para medir o grau de exposição a fatores de risco. Um questionário semi-estruturado foi aplicado e foram coletadas 123 amostras de sangue, sendo 44 (35,8%) de vaqueiros, 56 (45,5%) de vacinadores, que manipulam a estirpe vacinal B19 de Brucella abortus, e 23 (18,7%) de veterinários. O diagnóstico sorológico por aglutinação em placa, com antígeno acidificado e tamponado, revelou uma prevalência global de 6,5% (IC95% = 2,8-12,4). A prevalência foi de 9%, 3,6% e 8,7% para vaqueiros, vacinadores e veterinários, respectivamente. O intervalo de confiança da diferença entre estas proporções, ao nível de 95%, mostra que elas pertencem à mesma população. Soros positivos para a prova do antígeno acidificado e tamponado tiveram títulos que variaram de 50 a mais de 200 no teste de aglutinação lenta em tubo e de menos de 25 até 50 no teste do 2‑Mercaptoetanol. A prevalência de exposição a fatores de risco como consumo de leite cru, não-utilização de equipamentos de proteção, ajuda em partos e manipulação de carcaças foi elevada em todos os grupos. Para cada fator de risco, a prevalência global da exposição foi superior a 60%, exceto para o consumo de leite cru, cuja prevalência foi de 33,3%. Como conclusão, deve ser enfatizada a importância da educação para a saúde em programas nacionais de promoção da saúde humana e animal, especialmente no que diz respeito aos costumes e à utilização de equipamentos de proteção individual.

Palavras-chave: Brucelose, brucelose humana, prevalência, fatores de risco


SUMMARY

Brucellosis, an infectious disease of animals, is transmitted to man directly or indirectly through contact with infected animals, handling of carcasses and offal, or by consumption of products like raw milk and its derivatives. Thus, the risk of infection is higher in the livestock professionals, including those who work in slaughterhouses. Also they are under risk of infection those who manipulate alive vaccine, produced with B19 strain of Brucella abortus. In the months of April and May in the year 2008, were surveyed veterinarians, vaccinators and cowboys in some municipalities in northern Brazil, for the detection of positive serology for brucellosis. This work served also to measure the degree of exposure to risk factors. A semi-structured questionnaire was applied and were collected 123 blood samples, being 44 (35.8%) of cowboys, 56 (45.5%) of vaccinators, that manipulate vaccinal B19 strain of Brucella abortus, and 23 (18.7%) of veterinarians. The serological diagnosis by plate agglutination with acidified and buffered antigen revealed an overall prevalence of 6.5% (IC95% = 2,8-12,4). The prevalence was 9%, 3.6% and 8.7% for cowboys, vaccinators and veterinarians, respectively. The confidence interval of the difference between these proportions, at the level of 95%, shows that they belong to the same population. Sera positive for acidified and buffered antigen had titles that ranged from 50 to over 200 in the slow agglutination test in tube and in less than 25 to 50 in the test of 2-Mercaptoethanol. The prevalence of exposure to risk factors such as consumption of raw milk, non-use of protective equipment, aid at childbirths and manipulation of carcasses was high in all groups. For each risk factor, the overall prevalence of exposure was greater than 60%, except for the consumption of raw milk, whose prevalence was 33.3%. As conclusion, must be emphasized the importance of health education in national programs of promoting human and animal health , especially with regard to customs and the use of personal protective equipment.

Keywords: Brucellosis, Human brucellosis, prevalence, risk factors

CARACTERÍSTICAS DA DOENÇA E PARASITISMO

Prof. Francisco Baptista

A forma como a doença ocorre, apresentando ou não sinais e sintomas de que a normalidade foi rompida, permite classificá-la em clínica ou subclínica, respectivamente. Quanto à forma de apresentação, as doenças podem ainda ser classificadas como típicas ou atípicas. A forma típica é a forma aguda, com exuberância de sinais e sintomas típicos da doença, o que facilita o diagnóstico sem necessidade de recurso a métodos diagnósticos complementares. Já nas formas atípicas a doença é pobre em sinais e sintomas e estes, quando presentes não lembram o quadro típico da doença e o seu diagnóstico requer geralmente o emprego de métodos complementares como radiologia, análise de tecidos, entre outros. São consideradas formas atípicas a subaguda, superaguda e crônica. Esta última corresponde a uma forma arrastada. Geralmente, pode-se dizer que uma doença infecciosa caminha para a cronicidade ou desfecho desfavorável quando a duração tende a ser superior a 30 dias. Um intervalo de tempo que caracteriza as doenças é o chamado período de incubação; é o período de tempo que vai da entrada do agente no hospedeiro até ao aparecimento de sinais ou sintomas da sua ação deletéria. Como depende de características do hospedeiro e do agente esse período varia entre limites mais ou menos amplos – desde algumas horas até vários meses. Geralmente é considerado um período médio para cada doença e espécie de hospedeiro. Desde a penetração do agente no hospedeiro até à possibilidade da sua evidenciação direta ou indireta decorre um período de tempo designado por período pré-patente. Corresponde ao período em que a interação entre agente e hospedeiro não pode ser revelada pelos procedimentos diagnósticos disponíveis. O período prodrômico marca o fim do período de incubação e início da apresentação de sintomas e sinais de doença. Na interação dos parasitas (agentes vivos de doença) com os hospedeiros, designada por parasitismo, estes são sempre prejudicados, ao contrário do que acontece no comensalismo ou na simbiose. O parasita procura no hospedeiro a garantia da perpetuação da sua espécie. O grau de parasitismo pode variar desde uma situação de espoliação continuamente compensada pelo hospedeiro (sem alteração aparente deste) até dano capaz de comprometer o hospedeiro como unidade biológica viável, sobrevindo assim a sua morte. Caso as forças defensivas do hospedeiro (específicas e inespecíficas) consigam destruir o agente agressor, a homeostasia é restabelecida e o estado de equilíbrio com o meio mantido. Da interação com os parasitas resultam condições ou estados patológicos para o hospedeiro, cujo reconhecimento é de fundamental importância paras ações de restituição ou promoção da saúde individual e coletiva. Considera-se portador todo o vertebrado que transporte, albergue e permita a eliminação para o meio, ou para outro hospedeiro susceptível, de algum agente de doença. Os portadores podem apresentar-se nos estados, pré-patente, de incubação, prodrômico, subagudo, hiperagudo, agudo, de convalescença e crônico. Quando o portador é responsável pela manutenção da doença na natureza recebe o nome de reservatório. Desta forma, no ciclo urbano da raiva, o homem se infeta geralmente a partir de cães acometidos pela doença, sendo estes os responsáveis pela manutenção do ciclo urbano da doença e, conseqüentemente, são os reservatórios do vírus rábico nesse ciclo. Situação idêntica é observada na brucelose bovina. Nestes animais (vacas) a brucelose é doença bacteriana abortiva provocada por Brucella abortus e que pode ser transmitida ao homem a partir de animais acometidos ou a partir de produtos, como o leite, manteiga ou queijo. Contudo a infecção no homem termina geralmente em dedo de luva, não sendo ele, mas sim os bovinos, os responsáveis pela manutenção da doença na natureza; portanto são estes os reservatórios do agente etiológico. Em determinadas circunstâncias os hospedeiros saudáveis, mas susceptíveis, dividem o mesmo espaço com indivíduos infectados, durante tempo suficiente para se dar a transferência do agente de doença dos infectados para os saudáveis. Estes, durante o período pré-patente ou
de incubação da doença, são considerados como infetados e se designam por contatos. Por isso, os contatos são alvo de medidas preventivas de isolamento, tratamento ou até mesmo sacrifício quando se trata de  animais. Quando submetidos à quarentena (isolamento por tempo geralmente correspondente ao período de incubação), os contatos podem ser alvo de procedimentos de diagnóstico que permitem a análise de diversos produtos como urina, fezes, tecidos, leite, plasma seminal, entre outros. Este diagnóstico visa, direta ou indiretamente, antecipar o diagnóstico clínico que, muitas vezes, é falível por pobreza de sinais e sintomas. Cumprida a quarentena e sendo negativos os exames diagnósticos, os contatos são considerados saudáveis para as patologias pesquisadas podendo integrar a comunidade (ex. rebanhos, no caso de animais).
 
Bibliografia
 
1. FORATTINI, Oswaldo Paulo. Epidemiologia Geral. 2ª Ed. Depto de Epidemiologia: Faculdade de Saúde Pública – USP. Editora Artes Médicas, 1996.
2. LESER, Walter. et al. Elementos de Epidemiologia Geral. São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte: Editora Atheneu, 1997.
3. SAÚDE, Ministério da. Estudos Epidemiológicos. Ed. Única. Fundação Nacional da Saúde – Vigilância Epidemiológica. Agosto/2000
4. PEREIRA, Mauricío Gomes. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A.,2001.
5. ROUQUAYROL, Maria Zélia. et al. Epidemiologia e Saúde. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Medsi, 1999.
6. JEKEL, James F. et al. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva. 1ª Ed. Porto Alegre: Editora Artmed S.A., 2002.

CARACTERÍSTICAS DOS AGENTES BIOLÓGICOS DE DOENÇA

Prof. Francisco Baptista

São agentes biológicos de doença todos os seres vivos não vertebrados capazes de se desenvolver no organismo hospedeiro e daí resultar prejuízo para este. Esse prejuízo pode ser funcional ou estrutural. Os agentes biológicos de doença podem ser classificados em infecciosos e infestantes. Os primeiros podem ser vírus, bactérias, fungos ou protozoários e exercem a sua ação deletéria multiplicando-se na intimidade dos tecidos e órgãos dos hospedeiros. São agentes infestantes os helmintos, ácaros, piolhos e insetos capazes de
colonizar na superfície corporal ou nas mucosas e aí exercerem ação patogênica direta ou indireta (como veiculadores de agentes infecciosos - vetores). A capacidade dos agentes biológicos provocarem doença depende dos seguintes fatores:

1. Resistência do hospedeiro;
2. Dose e via de penetração do agente biológico;
3. Infectividade (capacidade de multiplicação do agente no hospedeiro);
4. Patogenicidade (capacidade de o agente provocar doença clínica) – uma patogenicidade de 25% significa que 25 em cada 100 indivíduos infetados desenvolvem sinais ou sintomas da infecção;
5. Virulência - medida da patogenicidade, se expressa pela quantidade mínima capaz de provocar efeito (doença ou morte) em 50% dos animais de experiência; se o efeito for a morte designa-se por DL50 – Dose Letal 50.  A letalidade denota assim a proporção de mortes entre os doentes. 

A persistência de uma infecção ou infestação depende não só da capacidade do hospedeiro se defender, mas também da possibilidade do agente alterar as suas características e tornar inativas as defesas específicas do hospedeiro. Vários agentes (vírus e protozoários) têm essa habilidade, o que lhes permite tornar ineficaz o sistema imunológico do hospedeiro. 

Os agentes biológicos de doença e partes ou produtos seus têm ainda duas outras características: a de induzirem resposta imunológica (imunogenicidade) e de reagirem especificamente com anticorpos ou células imunocompetentes produzidos sob sua indução (antigenicidade). A imunogenicidade está associada ao peso molecular, complexidade estrutural e natureza estranha dos agentes relativamente aos constituintes dos organismos afetados. Geralmente as proteínas, com estrutura complexa e com elevado peso molecular, são bons imunógenos. Já a antigenicidade é atribuída a constituintes superficiais de macromoléculas e governam a especificidade da reação antígeno-anticorpo. Estes constituintes, por si sós, não induzem resposta imunológica e, por isso, são ditos haptênios ou “meios antígenos”. 

Bibliografia
 
1. FORATTINI, Oswaldo Paulo. Epidemiologia Geral. 2ª Ed. Depto de Epidemiologia: Faculdade de Saúde Pública – USP. Editora Artes Médicas, 1996.
2. LESER, Walter. et al. Elementos de Epidemiologia Geral. São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte: Editora Atheneu, 1997.
3. SAÚDE, Ministério da. Estudos Epidemiológicos. Ed. Única. Fundação Nacional da Saúde – Vigilância Epidemiológica. Agosto/2000
4. PEREIRA, Mauricío Gomes. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A.,2001.
5. ROUQUAYROL, Maria Zélia. et al. Epidemiologia e Saúde. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Medsi, 1999.
6. JEKEL, James F. et al. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva. 1ª Ed. Porto Alegre: Editora Artmed S.A., 2002.

CAUSAS DE DOENÇA


Prof. Francisco Baptista

Definindo-se saúde como um estado de equilíbrio dinâmico, resultante da adaptação permanente do organismo ao meio endógeno e exógeno, tem-se, por um lado, forças do organismo capazes de interpretar, reagir e defender a normalidade e, por outro lado, forças endógenas ou exógenas capazes de reduzir ou anular essa capacidade defensiva. Estas forças agressoras, conhecidas como agentes de doença, causas de doença ou determinantes de doença podem ser de natureza genética (hereditária ou não), teratogênica, física, química, biológica ou sócio-econômico-cultural.

Nos primórdios da Microbiologia, depois da destronada a teoria da geração espontânea pelos trabalhos de Pasteur, surgiu a teoria da unicausalidade para explicar a etiologia de doenças infecto-contagiosas. Esta teoria foi reforçada pelos trabalhos pioneiros de Robert Koch e de Pasteur sobre a etiologia microbiana de doenças específicas como a tuberculose, raiva, pasteurelose aviária e carbúnculo hemático. Para uma doença uma única causa. Foram assim enunciados os postulados de Koch:

1. O agente da doença deve estar presente em todos os casos da doença;
2. Deve poder-se isolar o agente da doença e obtê-lo em cultura pura;
3. Deve poder-se reproduzir a doença por inoculação de cultura pura do agente isolado;
4. Deve poder-se isolar o agente deste novo caso de doença.

Os postulados de Koch foram-se mostrando insuficientes para explicar a etiologia das doenças, mesmo daquelas tão magistralmente tratadas por ele como é caso da tuberculose. Foi-se verificando que nem sempre a presença do bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis) significava a ocorrência da doença. Por outras palavras, verificou-se que o número de infectados pelo M. tuberculosis é maior do que o número de doentes. Então, para que um indivíduo desenvolva a doença não basta a presença nele do agente específico da doença, neste caso do M. tuberculosis; é necessário que sobre o indivíduo atuem outras forças (causas) capazes de, em conjunto com o agente específico, provocarem a doença específica. O agente específico é a causa necessária. As outras forças são ditas causas predisponentes. Causa necessária e causas predisponentes formam a causa suficiente. Assim, as doenças são multicausais, podendo ter distintas causas suficientes.

As explicações etiológicas da teoria da multicausalidade são dadas pelos postulados de Evans. Neles se estabelece que a etiologia das doenças é determinada por conjuntos de fatores capazes de condicionar freqüências de processos mórbidos significativamente maiores nas populações expostas.

A doença é conseqüência da ação de um conjunto de fatores (causa). Como a doença e a causa podem variar, pode-se dizer que a primeira é a variável dependente ou resposta e a segunda a variável independente ou explanatória. Dessa forma, o Mycobacterium tuberculosis, associado a diferentes fatores predisponentes se constitui na variável explanatória (causa multifatorial) e a tuberculose (doença) é a variável resposta. Em algumas situações a causa necessária é também suficiente como é o caso da infecção do homem pelo vírus rábico. Em doenças que não se constituem em entidades mórbidas específicas, particularmente nas síndromes, as causas suficientes não têm causa necessária.

Variáveis resposta e variáveis explanatórias podem estar associadas positiva ou negativamente. No primeiro caso a ocorrência simultânea de ambas deve ter freqüência superior àquela devida ao acaso; no segundo caso a ocorrência simultânea de ambas deve ter freqüência inferior à devida ao acaso; neste caso a variável explanatória tem papel protetor. As associações estatísticas positivas com a doença indicam relação causal. Contudo, nem todas as associações estatísticas positivas são causais. Se determinado agente provocar duas lesões orgânicas diferentes e independentes uma da outra em certa doença, pode-se dizer que existe associação positiva, estatística e causal entre cada lesão (variável resposta) e o agente (variável explanatória), mas embora continue a haver associação positiva estatística entre as duas variáveis respostas, não existe relação causal entre ambas. A probabilidade de ocorrência de uma das lesões aumenta com a presença do agente e da outra lesão e, por isso, estes são ditos fatores de risco para aquela. Como uma lesão é fator de risco para a outra, este fator de risco não é causal; contudo, o agente é fator de risco para qualquer das lesões e neste caso trata-se de um fator de risco causal.

Muitas causas de doença são passíveis de transferência de um hospedeiro para outro. Esta transferência pode acontecer por contato direto, indireto ou através de vetores. O contato direto faz-se de hospedeiro para hospedeiro e pressupõe a transferência da causa de doença por aposição de tecidos (beijo, relação sexual, amamentação); no contato indireto a causa da doença é transferida de um hospedeiro para outro, através de um veículo que pode ser o ar, alimentos, água, objetos e utensílios (fômites); vetores são animais invertebrados que podem simplesmente e de forma mecânica proceder à transferência de agentes biológicos de doença (vetores mecânicos), ou fazerem a transferência depois do agente biológico de doença ter cumprido parte do seu ciclo neles (vetores biológicos). Quando a transmissão da causa da doença se faz dentro da mesma geração (indivíduo para indivíduo) diz-se que é horizontal e quando se faz de uma geração para a seguinte, por exemplo, de mãe para filho, por via transplacentária ou transovariana, diz-se que é vertical. Quando a fonte de infecção (vertebrado que alberga e elimina o agente biológico de doença) e o hospedeiro susceptível ocupam o mesmo espaço e o material contaminante que se transfere de um para o outro é fresco, a transmissão recebe o nome de contágio. Assim, doenças contagiosas são aquelas que se podem propagar de um hospedeiro para outro quando ambos ocupam o mesmo espaço e o material contaminante é de emissão recente (fresco).

São determinantes de doença nos animais e no homem fatores exógenos (ambientais) ou endógenos (hereditários ou não). Os fatores ambientais podem ser físicos (temperatura e umidade), químicos (ácidos e bases fortes), biológicos (vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos) ou sociais como pobreza, guerra e cultura. Na maior parte dos casos é a associação destes fatores que provoca alterações orgânicas ou funcionais, de forma permanente ou temporária. Na verdade, hospedeiros e determinantes ou agentes de doença fazem parte do ambiente. 
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Bibliografia

1. FORATTINI, Oswaldo Paulo. Epidemiologia Geral. 2ª Ed. Depto de Epidemiologia: Faculdade de Saúde Pública – USP. Editora Artes Médicas, 1996.
2. LESER, Walter. et al. Elementos de Epidemiologia Geral. São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte: Editora Atheneu, 1997.
3. SAÚDE, Ministério da. Estudos Epidemiológicos. Ed. Única. Fundação Nacional da Saúde – Vigilância Epidemiológica. Agosto/2000
4. PEREIRA, Mauricío Gomes. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A.,2001.
5. ROUQUAYROL, Maria Zélia. et al. Epidemiologia e Saúde. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Medsi, 1999.
6. JEKEL, James F. et al. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva. 1ª Ed. Porto Alegre: Editora Artmed S.A., 2002.

segunda-feira, 21 de março de 2011

HOSPEDEIROS



Prof. Francisco Baptista


São hospedeiros todos os vertebrados, cuja integridade estrutural e funcional é constantemente ameaçada pela ação de fatores físicos, químicos, biológicos ou sociais conhecidos como agentes de doença.

A filogenia dos hospedeiros determina neles um estado de susceptibilidade ou de insusceptibilidade à ação de agentes de doença. Os hospedeiros susceptíveis permanecem saudáveis quando, através de suas forças defensivas, conseguem neutralizar a ação dos agentes de doença. Um hospedeiro é insusceptível (refratário) a determinado agente de doença quando a sua integridade não é afetada por este. Assim, os eqüinos, apesar de serem susceptíveis a vários agentes de doença, são refratários ao vírus da febre aftosa, ao qual são susceptíveis animais bi ungulados como bovinos, suínos, ovinos e caprinos. A temperatura corporal das aves, maior que a dos mamíferos, torna-as refratárias à infecção pelo Bacillus anthracis. 

Os hospedeiros apresentam vários graus de resistência, determinados pela capacidade das suas forças defensivas se contraporem à ação deletéria dos agentes de doença. Dessa forma as variações de susceptibilidade e, conseqüentemente, de resistência, podem ser encontradas entre indivíduos da mesma espécie ou entre indivíduos de espécies diferentes. A contraposição suficiente da resistência dos hospedeiros à capacidade agressiva dos agentes define um estado de equilíbrio dinâmico denominado saúde. Se essa contraposição for insuficiente, vários graus de desequilíbrio nas funções do organismo hospedeiro podem acontecer e, nesses casos, diz-se que há doença. Tudo depende da resultante da ação das forças que procuram manter e levar os parâmetros fisiológicos para a normalidade e da ação daquelas forças que, provocando danos nos hospedeiros, alteram esses parâmetros. 

A capacidade de resposta do organismo (resistência) pode ser sobrepujada e, conseqüentemente, estabelecer-se um estado de incapacidade transitório ou definitivo. Em casos extremos, essa incapacidade pode significar o desaparecimento (morte) do organismo como unidade biológica independente. Sob este ponto de vista, a vida pode ser entendida como a capacidade de resposta do organismo e restabelecimento da homeostasia o que, progressivamente, desde a concepção, se vai esgotando e orientando para a desagregação da unidade biológica. A Epidemiologia, ao cuidar dos hospedeiros, procura compreender melhor essas unidades biológicas e as respectivas forças defensivas, como premissa para ações de defesa, manutenção e promoção da saúde nas populações. As forças defensivas dos hospedeiros podem ser classificadas como inespecíficas ou específicas. São forças defensivas inespecíficas as que conferem imunidade inata, podendo ser de natureza química ou celular. 

O organismo mobiliza essas forças para combater qualquer substância estranha à sua composição ou, mesmo não sendo estranha, exista em quantidade ou situação não condizente, funcional ou estruturalmente, com a normalidade. Podem ser citadas como forças defensivas inespecíficas as células com capacidade fagocitária, certas enzimas como a lisozima das lágrimas, os sais biliares vertidos no tubo digestivo, os movimentos peristálticos do tubo digestivo, reflexos como o espirro e a tosse. No seu conjunto, tais forças defensivas influenciam e são influenciadas pelo funcionamento de tecidos, órgãos e sistemas. Incluem-se nessas forças a integridade da pele e das mucosas, que se constituem em verdadeiras fortalezas mecânicas e químicas. As forças defensivas específicas conferem imunidade adquirida e podem ser do tipo humoral (anticorpos) ou celular (linfócitos T). A particularidade destas forças é que elas só atuam contra as substâncias estranhas ao organismo que induzem a sua formação, complementando e reforçando a ação das forças defensivas inespecíficas anteriormente referidas. 

As substâncias estranhas ao organismo chamam-se antígenos e a as imunoglobulinas capazes de com eles se combinarem de forma específica são chamadas de anticorpos. Existem diferentes classes de imunoglobulinas como IgA, IgG, IgM, IgE. Em cada classe, com base em características físicoquímicas e estruturais, são conhecidas subclasses. A distribuição e a concentração das diferentes imunoglobulinas nos tecidos não são uniformes; variam na dependência do tipo de imunoglobulina e da reação imunológica que origina a sua formação (estímulo antigênico – natureza, intensidade e duração). Assim, a IgA é conhecida como protetora das mucosas, a IgG e a IgM encontram-se principalmente na corrente sanguínea e a IgE é tida como a imunoglobulina dos fenômenos alérgicos e parasitoses gastrintestinais.

Na imunidade ativa é o próprio organismo que produz os fatores protetores (anticorpos e células imunocompetentes); já na imunidade passiva o organismo recebe esses fatores de outro organismo previamente imunizado. A imunidade passiva é imediata, mas de duração menor que a imunidade ativa. Na imunidade ativa o organismo conserva a chamada memória imunológica, fazendo com que em um segundo contato com a substância antigênica a resposta (produção de anticorpos ou de células imunocompetentes) seja maior e mais rápida. Este aspecto é utilizado na imunização ativa através de vacinação, repetindo a inoculação da vacina para se obter uma proteção mais sólida. A imunidade ativa, ao contrário da passiva, só se estabelece algum tempo após o estímulo antigênico. Entretanto, o hospedeiro permanece vulnerável, isto é, sem proteção específica.

Bibliografia

1. CÔRTES, JOSÉ DE ANGELIS. Epidemiologia – Conceitos e princípios fundamentais. São Paulo: Livraria Varela, 1993.
2. FORATTINI, Oswaldo Paulo. Epidemiologia Geral. 2ª Ed. Depto de Epidemiologia: Faculdade de Saúde Pública – USP. Editora Artes Médicas, 1996.
3. JEKEL, James F. et al. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva. 1ª Ed. Porto Alegre: Editora Artmed S.A., 2002
4. LESER, Walter. et al. Elementos de Epidemiologia Geral. São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte: Editora Atheneu, 1997.
5. PEREIRA, Mauricío Gomes. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A.,2001.
6. ROUQUAYROL, Maria Zélia. et al. Epidemiologia e Saúde. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Medsi, 1999.
7. SAÚDE, Ministério da. Estudos Epidemiológicos. Ed. Única. Fundação Nacional da Saúde – Vigilância Epidemiológica. Agosto/2000
8. Thrusfield, M. V. Epidemiologia Veterinária. 2ª Ed. São Paulo: Roca, 2004

CONCEITUAÇÃO E ÂMBITO DA EPIDEMIOLOGIA

Prof. Francisco Baptista


A Epidemiologia (Gr. Epi = sobre, Demos = povo e Logos = estudo) pode ser definida como o ramo do conhecimento científico que se ocupa dos eventos saúde - doença nas populações e das medidas de defesa e promoção da saúde coletiva.


A Epidemiologia mede a qualidade de vida e preconiza a avaliação, desenvolvimento e aplicação de medidas que promovem o bem estar do homem e dos animais. É a base da defesa da saúde populacional porque identifica e mede a freqüência dos agravos à saúde e indica as medidas corretivas (curativas ou profiláticas) a serem aplicadas.

Na abordagem epidemiológica os indivíduos são geralmente agrupados ou avaliados segundo características como idade, sexo, modo de vida, local de residência, entre outras. Desta forma, medindo a freqüência dos agravos à saúde, a Epidemiologia é capaz de identificar grupos de risco; nestes, a freqüência do agravo deve ser significativamente maior, embora não se exclua a possibilidade da sua ocorrência em grupos sem a característica considerada.

Definindo-se saúde como um estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo animal e as forças endógenas ou exógenas capazes de romper esse equilíbrio e provocar doença, compreende-se que a Epidemiologia se deve ocupar também dessas forças, sejam elas físicas, químicas, biológicas ou sociais. Assim, esta disciplina, para além de se ocupar das doenças, também se refere aos determinantes, fazendo o mapeamento espacial (geográfico) e temporal de ambos, medindo a sua magnitude e definindo as medidas de controle ou erradicação dos agravos à saúde nas populações.


O conhecimento gerado pela Epidemiologia é fundamental para a descrição de como as doenças se originam, progridem e mantêm nas populações, o que se constitui na história natural das mesmas. Esse conhecimento permite antever o desfecho (prognóstico) e, conseqüentemente, a aplicação de medidas que ao modificarem a história natural das doenças podem defender a saúde individual ou populacional.

Do acima exposto, pode-se definir Epidemiologia como o ramo do conhecimento científico que se ocupa da distribuição e freqüência das doenças e dos seus determinantes nas populações e das medidas de defesa, recuperação e promoção da saúde coletiva.

São determinantes de doença os fatores, inerentes aos hospedeiros, aos agentes e ao meio, capazes de afetar a saúde e provocarem doença ou morte.

O principal objetivo da clínica é a recuperação da saúde dos pacientes (enfermos) e a sua ação termina quando o desfecho da doença é a cura ou a morte. Porém, à Epidemiologia interessam tanto os hospedeiros doentes quanto os saudáveis, incapacitados ou mortos. 



A compreensão do fenômeno epidemiológico passa, necessariamente, pelo conhecimento de cada elemento que dele pode participar e das relações que esses elementos mantêm ou podem manter entre si.
Dessa forma, a Epidemiologia assenta no conhecimento dos hospedeiros, das causas de doença e do ambiente endógeno ou exógeno que modela e influencia a ocorrência, progressão e desfecho dos processos mórbidos, para em seguida definir e desenvolver medidas de restabelecimento da saúde populacional. Para tanto, a Epidemiologia recorre ao marco teórico de outras disciplinas científicas como a Citologia, Fisiologia, Microbiologia, Ecologia, Patologia, Parasitologia, Demografia, Estatística, entre outras. O avanço do conhecimento, em qualquer uma das áreas com as quais se relaciona, permite à Epidemiologia a formulação e reformulação da abordagem dos eventos saúde - doença nas populações e, conseqüentemente, o enriquecimento do seu próprio acervo.

Diferentes denominações, como epidemiologia clínica, epidemiologia genética, epidemiologia molecular, podem ser encontradas na literatura, representando apenas enfoques distintos dentro de uma mesma ciência, a Epidemiologia. Esta, como todas as outras ciências, para estudar os eventos saúde-doença nas populações, identifica problemas, adianta soluções para eles (formulação de hipóteses), testa essas soluções (hipóteses) e, em função dos resultados e com certo grau de confiança, aceita ou rejeita essas soluções.

Bibliografia
1. FORATTINI, Oswaldo Paulo. Epidemiologia Geral. 2ª Ed. Depto de Epidemiologia: Faculdade de Saúde Pública – USP. Editora Artes Médicas, 1996.
2. LESER, Walter. et al. Elementos de Epidemiologia Geral. São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte: Editora Atheneu, 1997.
3. SAÚDE, Ministério da. Estudos Epidemiológicos. Ed. Única. Fundação Nacional da Saúde – Vigilância Epidemiológica. Agosto/2000.
4. PEREIRA, Mauricío Gomes. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A.,2001.
5. ROUQUAYROL, Maria Zélia. et al. Epidemiologia e Saúde. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Medsi, 1999.
6. JEKEL, James F. et al. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva. 1ª Ed. Porto
Alegre: Editora Artmed S.A., 2002.